quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crônica do amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa. 

Arnaldo Jabor

Desejos



Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade

Amar

Amar:

Fechei os olhos para não te ver

e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.
 
Mario Quintana

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Minha vida é uma enciclopédia, cada ano um volume, cada dia uma página, cada hora novo texto, cada minuto uma palavra, e a cada segundo entre um sim e um não, muda-se a história." (Elanklever)

Ser feliz é o fim da história?


Em algum momento você descobre que é feliz...que existe em você uma felicidade que é real,palpável e sóbrea...ela se instala em você e enche sua alma de paz,uma paz tão grande que torna tudo vazio.Tudo se transforma em branco,em neutro...
Aquela felicidade que te faz entender o que é plenitude...que traz doçura,ternura,encantamento...tudo transborda e de repente você fica vazio!
Aí se pergunta:Era só isso?é assim quando a história acaba?isso era realmente tudo?
E eu vou continuar vivendo?Vou carregar pra sempre o vazio de ser feliz?
Quando a felicidade se instala e falta algo fica difícil entender o que está faltando...Que medo é esse de ser feliz?

A felicidade devia fazer o coração saltar pela boca,devia acelerar as batidas dele,fazer as pernas tremerem,encher os olhos de lágimas,bagunçar os cabelos,arrepiar cada pêlo do corpo,fazer as mãos suarem e a voz calar...felicidade que traz uma dor pro peito,que faz querer rabiscar as paredes,que te faz querer cores,que traz pra gente uma vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, que é ânimo,euforia,descontrole,que te faz ter certeza que tem muito mais e faz querer menos...que da medo,que é inconstante,incontrolável,inexistente!
Que medo é esse de ser feliz???

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Soneto Do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O Amor é essencial, O Sexo, acidente;Pode ser igual, Pode ser diferente"
    Fernando Pessoa


    
             

Tenho um Amor

Tenho um amor fresco e com gosto de chuva,
e raios e urgências.
Tenho um amor que me veio pronto.
Assim, água que caiu de repente.
Nuvem que não passa.
Me escorrem desejos pelo rosto, pelo corpo.
Um amor susto.
Um amor, raio trovão fazendo barulho.
Me bagunça.
E chove em mim todos os dias.

Caio Fernando Abreu

sábado, 22 de janeiro de 2011

Tenho sempre vírgulas e reticências,evito o ponto final...

Tenho sempre vírgulas e reticências,evito o ponto final...


Essa foi a frase que minha mente me martelou quando deitei na cama às cinco da manhã afim de dormir,mas sem sono algum...
Quase sempre antes de dormir a minha mente me analisa e eu analiso a minha mente...(minhas atitudes vez e outra entram em conflito com o que eu penso e vise-versa)...
As vezes a quantidade de pensamentos embaralhados me fundem a cabeça sem pedir licença e me deixam alguma reflexão...me torno então analista de mim mesma e muitas vezes fico sem entender bulhufas...

veja só que irônico...estou escrevendo porque o sono não vem pra mim,mas provavelmente enquanto lê essas linhas o sono chega à galopes pra você...Muito embora eu desconfie de que ninguém vá ler o que escrevo aqui agora,acredito que talvez além de mim apenas meu marido leia(Espero que você goste do que está escrito aqui,afinal dizem que somos aquilo que pensamos)..pensando nisso chego mais uma vez à conclusão de que sou muito confusa ja que meus pensamentos estão sempre mudando,embora a essência mesmo não mude.
Não me lembro de alguma vez ter me aberto com aalguém sobre o medo que tenho de pontos finais...
(Estar nua diante do espelho não é como despir-se pra uma platéia)...
O certo mesmo é que ponto final não é bom,embora venha sempre algo após ele...(Eu acredito nisso)...
Bom mesmo seria se pudéssemos recomeçar sem ter que colocar um fim.(Bom mesmo é renovar)...
Despedidas são sempre tão tristes...sempre leva um tempo pra nos acostumarmos com o novo,às vezes quando nos acostumamos o novo ja ta ficando velho...
Eu realmente não gosto de pontos finais e não acredito neles...
Eu creio na eternidade das almas,no legado que deixamos na Terra,na perpetuação através das pessoas que amamos e das pessoas que nos amam,a perpetuação nas frases que escrevemos(mesmo que ninguém leia),eu acredito nos momentos que se eternizam em nossa mente,nas sensações que ficam empregnadas em nosso corpo...
Pra mim viver é também reviver muitas vezes, mesmo que apenas mentalmente, a mesma cena,é ouvir muitas vezes a mesma música,voltar muitas vezes à um momento único,é embriagar-se de cheiros.
Eu amo a nostalgia,eu to sempre voltando pro lugar de onde partí,mas não pra me reencontrar...eu preciso voltar pra me encontrar sempre pela primeira vez comigo mesma...eu preciso voltar pra descobrir o que me fez ser o que sou...confesso que gosto do que descubro,mesmo que eu sempre prenda num baú à cadeado algumas partes de mim...
Eu gosto do apalpável e também daquilo que ja não é  possível pegar(Eu faço poucos planos,embora sonhe muito)
Eu gosto da tortura que ha nas lembranças boas,sinto prazer na saudade...
Eu choro sorrindo e rio chorando muitas vezes...
Confesso que quando um ciclo se encerra e outo começa eu também adoro..(risos)
É preciso ter esperança e fé pra encarar a vida com um sorriso nos lábios...mesmo que algumas vezes o sorriso amarele...
Sabe o que acho melhor no futuro?os novos personagens que chegarão...decifrar alguém é sempre muito agradável...é bom demais essa oportunidade que o futuro nos dá de cativar e ser cativado...


Hoje estou sentindo vontade de agarrar o mundo com as mãos e espremê-lo pra ver se sai sangue ou se sai flores,mas também hoje,exatamente hoje o mundo sou eu,então vou ter que espremer-me por dentro...é sempre doído...e doido...
Mas o dia está só começando e tudo pode sempre mudar,aliás o lógico é que mude...junto com os ponteiros do relógio...
Perdoê-me pelos erros gramaticais!Eu realmente sempre odiei pontos finais e também os parágrafos...na verdade eu odeio mesmo até hoje algumas regras de gramática...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
[...]
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
[...]
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
[...]

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
[...]
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
E amar as coisas como Deus.
[...]
Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim,
Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
E acha mais seu olhar para o absinto a beber que bebê-lo...
[..]
Eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
Um falar-alto incompreensível...
[...]
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.